quarta-feira, 19 de abril de 2023

G. Dias disse a Lula que câmera do circuito interno de TV estava quebrada

Explicação do general foi dada ao presidente logo após os ataques de vândalos ao Palácio do Planalto, em 8 de janeiro

O general Gonçalves Dias disse ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que a câmera do circuito interno posicionada para o corredor de acesso ao gabinete presidencial, no Palácio do Planalto, estava quebrada e por esse motivo não havia imagens daquele local durante a depredação do Palácio do Planalto, em 8 de janeiro. A explicação foi dada por G. Dias, à época ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), ao ser questionado por Lula sobre as gravações no mesmo dia dos atos golpistas.

O presidente pediu as imagens daquela câmera específica, mas não conseguiu, segundo relatos de ministros do Planalto ao Estadão. Dias depois, o chefe de gabinete de Lula, Marco Aurélio Santana Ribeiro, conhecido como Marcola, também solicitou o vídeo e obteve a mesma resposta do general.

O governo foi surpreendido com a divulgação das imagens, nesta quarta-feira, 19, pela CNN Brasil. Logo após os ataques, o GSI chegou a divulgar alguns vídeos do circuito interno do Planalto que mostravam a destruição de móveis, janelas e obras de arte por vândalos. Mas, diante de inúmeros pedidos para que fosse tornado público todo o material, decretou sigilo de cinco anos sobre as gravações.

A portas fechadas, Lula avaliou que G. Dias caiu numa armadilha e foi enganado por sua própria equipe, que no início do ano era composta, em sua maioria, por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Não há no Planalto desconfiança em relação à lealdade do general, que foi chefe da segurança de Lula em seus dois mandatos, de 2003 a 2010. Mas a avaliação é a de que G. Dias, mesmo após a troca dos subordinados, não demonstrava ter controle sobre os militares que com ele trabalhavam. Como mostrou o Estadão, as funções do GSI sob G.Dias foram pouco a pouco esvaziadas, tanto que até mesmo a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) saiu de sua alçada e passou para a Casa Civil, comandada por Rui Costa.

Para Lula, o aparecimento das imagens deu combustível para a instalação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de janeiro. Com esse revés, o governo foi obrigado a mudar de estratégia e apoiar a abertura da comissão, ficando agora nas mãos do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), líder do Centrão, para fazer maioria no colegiado. É certo, porém, que a oposição vai usar essa CPMI para puxar outras, como a das invasões do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST).

Ministro de Lula estava na invasão ao Palácio em 8 de janeiro
O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI/PR), Marco Edson Gonçalves Dias, pediu demissão do cargo, nesta 4ª feira (19.abr). A exoneração a pedido será publicada no Diário Oficial da União (DOU).

Mais cedo, a Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado (CSPCCO), da Câmara dos Deputados, havia aprovado a convocação de Gonçalves Dias, para que ele prestasse esclarecimentos sobre os ataques ocorridos, em 8 de janeiro, nas sedes dos Três Poderes, em Brasília.

Ele havia sido convidado pela CSPCCO para, em audiência pública nesta 4ª, prestar esclarecimentos sobre os ataques. Entretanto, faltou à audiência, alegando motivo de saúde.

Na manhã de hoje, a CNN divulgou imagens que mostram Gonçalves Dias dentro do Palácio Planalto quando a invasão ao local ocorria, no dia 8 de janeiro. Às 16h29, o circuito interno registra imagens dele caminhando sozinho no terceiro andar do Planalto, na antessala do gabinete do presidente da República. Após tentar abrir duas portas, ele entra no gabinete. Depois de alguns minutos, o ministro surge caminhando pelo mesmo corredor com alguns invasores. O vídeo sugere que ele indica a saída de emergência aos golpistas.

Gonçalves Dias assumiu o GSI/PR em 1º de janeiro deste ano. Antes, foi secretário de Segurança da Presidência da República, no segundo governo Lula (PT). Como general de divisão, atuou como comandante da 6ª Região Militar, diretor de Civis, Inativos, Pensionistas e Assistência Social do Exército e vice-chefe do Departamento-Geral do Pessoal do Exército.